247 – A presidente Dilma Rousseff está com uma mão de cartas cheia de curingas – e, por isso mesmo, não tem pressa para baixar seu jogo. Com um ministério inteiro à disposição, Dilma joga o jogo da reforma ministerial de olho em consolidar apoios eleitorais para outubro e, também, sinalizar o feitio do segundo mandato para o qual ela concorre. Ela sabe que as vagas podem selar lealdades eleitorais, mas não quer alterar radicalmente o perfil de seu governo num ano delicado na economia, em que qualquer deslize pode gerar uma avalanche.
Soltando recados de que não pretende dar mais espaço ao PMDB do que o partido já tem, Dilma avisa, ao mesmo tempo, que não pretende abrir mão de uma cota pessoal na mudanças ministerial. É atribuída a ela, ainda, a decisão de fazer sucessões internas aos próprios ministérios.
O ministro Alexandre Padilha, da Saúde, que já avisou que sairá até o final de janeiro para concorrer ao governo de São Paulo, será substituto por um integrante sua atual equipe. Na Casa Civil, de onde Gleisi Hoffman sairá para concorrer ao governo do Paraná, a pule de dez é o ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Antecipadamente, ele já desponta como um dos vitoriosos da reforma que ainda não aconteceu.
TEMPERAMENTO FORTE - Depois de vetar a entrada do ex-ministro Ciro Gomes, cujo temperamento explosivo guarda forte potencial de criar problemas para Dilma em ano eleitoral, a presidente deixou claro não ter objeções ao governador do Ceará, Cid Gomes, tornar-se seu ministro. Com isso, ela ganharia o apoio do PROS e o tempo do partido no horário eleitoral gratuito.
O PROS dos Gomes está de olho na vaga a ser aberta no estratégico Ministério do Desenvolvimento. O titular Fernando Pimentel será o candidato do PT ao governo de Minas Gerais, e a pasta ficaria disponível para capturar um partido importante para a aliança petista.
O PSD do ex-prefeito Giberto Kassab também está de olho cumprido na cadeira de Pimentel. Kassab tem o trunfo extra, para conseguir o que deseja no primeiro escalão, porque pode retirar sua pré-candidatura ao governo de São Paulo. Ele firmaria, então, uma aliança em primeiro turno com o PT, cedendo tempo de tevê tanto para Dilma como para Padilha.
A presidente já deu a entender que quer carregar Josué Gomes da Silva, filho do ex-vice-presidente José Alencar, para dentro do seu novo ministério. Ele corre por fora para ficar com o Desenvolvimento, no que seria um gesto de agrado a Minas Gerais, mas pode ser encaixado numa pasta de menor expressão, valendo o título de ministro.
SEM TER PARA ONDE IR - Com o PMDB, partido famoso pelo apetite voraz por cargos, Dilma está engrossando o jogo. A presidente já avisou ao vice Michel Temer, encarregado pela legenda para tratar do assunto, de que não pretende aumentar o espaço da agremiação em seu governo.
Ela considera que o foco das atenções não estará sobre o Congresso Nacional, cujas duas casas são chefiadas pelo PMDB. Além disso, avalia que ao partido não restará alternativa a não ser a de apoiar o governo, para garantir a vice-presidência da República por mais quatro anos.
Diante de todas essas variáveis, a presidente demonstra não estar com pressa, mesmo que isso deixe 'nervosinhos' os chefes dos partidos. Dilma crê que distribuir ministérios antes da hora avilta o valor do cargo. Oferecidos na hora certa, mais perto dos prazos para o fechamento das coligações partidárias, os cargos, ao contrário, serão tanto mais cobiçados quanto mais valor de troca passarão a ter