O Centrão Acordou: Pragmatismo ou Estratégia de Sobrevivência?o
Nos últimos dias, a cena política brasileira foi sacudida por um fenômeno curioso: o centrão — aquele bloco político flexível, multifacetado e sempre presente nos bastidores do poder — parece ter despertado de um sono estratégico.
A coluna “Valdemar, Ciro, Arthur, Davi e Kassab: o centrão acordou”, da TixaNews, publicada no UOL, descreve esse movimento com ironia afiada, mas também aponta algo mais profundo: as principais lideranças do bloco decidiram agir com pragmatismo em meio à instabilidade provocada pela ala mais radical do bolsonarismo.
Quem são os protagonistas desse “acordar”
- Valdemar Costa Neto (PL): reagiu com cautela diante das obstruções bolsonaristas, evitando mergulhar na pauta mais radical e preservando a imagem de articulador.
- Ciro Nogueira (PP): não embarcou na ideia de impeachment de Alexandre de Moraes, reforçando sua postura negociadora.
- Arthur Lira (PP): como sempre, o grande maestro da Câmara, calculando movimentos e usando temas como o fim do foro privilegiado como moeda de troca.
- Davi Alcolumbre (União Brasil): acelerou licenças ambientais estratégicas e manteve sintonia com o governo Lula, mostrando que sabe operar para além das disputas ideológicas.
- Gilberto Kassab (PSD): abriu espaço para discutir nomes fora da polarização, inclusive cogitando Rodrigo Pacheco como alternativa ao Planalto.
O que significa, de fato, esse movimento?
Não se trata de um súbito ataque de consciência democrática. O “acordar” do centrão tem mais cheiro de estratégia de sobrevivência do que de renovação política. Ao perceber que a radicalização pode comprometer acordos, verbas e cargos, os líderes optam por baixar a temperatura e se colocar como mediadores — uma posição que rende influência e capital político.
O dilema do foro privilegiado
A pauta do fim do foro privilegiado aparece como um exemplo claro da ambiguidade do bloco. Por um lado, o discurso da transparência; por outro, a ameaça de perder um escudo jurídico que protege muitos dos seus integrantes. A defesa de princípios nunca é separada da defesa de interesses.
Conclusão: pragmatismo é poder
O centrão acordou, sim. Mas não para defender valores democráticos ou corrigir rumos da República. Acordou para não perder espaço. No jogo político brasileiro, quem dorme perde. E o centrão, há décadas, sabe muito bem como se manter desperto — sempre que o vento começa a mudar.