COMO DIZEM OS BOLSONARISTAS POR AQUI QUANDO QUEREM DIZER QUE O BRASIL VAI DAR ERRADO
Essa pergunta — “Os Estados Unidos estão virando uma nova Venezuela?” — é provocativa e carrega um tom político forte, mas vamos destrinchar isso com responsabilidade e clareza.
Os Estados Unidos estão virando uma nova Venezuela?
Essa comparação pode soar exagerada à primeira vista — afinal, estamos falando da maior potência econômica do planeta versus um país que sofre há anos com hiperinflação, colapso institucional e crise humanitária. Mas quando olhamos mais de perto para os sinais recentes da economia norte-americana, a pergunta deixa de ser apenas retórica e começa a revelar um alerta real sobre os riscos de desaceleração, desindustrialização e fragilidade econômica sistêmica.
O império começa a balançar?
A economia dos EUA ainda não está em recessão — mas está muito mais frágil do que parece:
- Criação de empregos estagnada: O país criou apenas 73 mil vagas líquidas em julho, e os números de meses anteriores foram revisados drasticamente para baixo.
- Consumo desaquecendo: A queda nos gastos com bens duráveis, como carros e eletrodomésticos, é um sinal direto de perda de confiança do consumidor.
- Inflação persistente: Apesar dos aumentos agressivos na taxa de juros, a inflação ainda não está plenamente sob controle, corroendo o poder de compra da população.
- Dívida pública explodindo: A dívida dos EUA ultrapassa os US$ 34 trilhões, um número que impõe limites à capacidade de estímulo econômico e pressiona os juros.
- Indústria em retração: A desindustrialização avança. Empresas migram para outros países. O setor produtivo perde força.
O que isso tem a ver com a Venezuela?
É evidente que os contextos são diferentes — mas alguns paralelos perigosos começam a surgir:
- Polarização política extrema, com um sistema travado e refém de disputas partidárias. A desconfiança nas instituições cresce.
- Endividamento estrutural crônico, impulsionado por décadas de política monetária expansionista.
- Bolhas financeiras sustentadas artificialmente, que lembram o modelo venezuelano baseado em impressão de dinheiro e populismo fiscal.
- Dependência do dólar como reserva de valor, que pode se tornar um risco caso a confiança global na moeda americana diminua.
Os Estados Unidos ainda têm tempo?
Sim. A economia americana ainda tem poderosos mecanismos de reação. Mas a pergunta é: os EUA estão dispostos a encarar seus próprios erros?
- O país precisa enfrentar o modelo especulativo de Wall Street, que concentra riqueza sem gerar valor produtivo.
- Precisa reindustrializar, investir em infraestrutura real e retomar o foco no trabalho e na produção, não apenas nos ganhos de curto prazo.
- Precisa superar a lógica de juros altos como única resposta para inflação — o remédio está adoecendo o paciente.
Conclusão
Não, os EUA ainda não são a Venezuela. Mas estão plantando algumas sementes perigosas: concentração de renda, colapso do poder aquisitivo da classe média, bolhas financeiras, desconfiança política e um sistema econômico que cresce cada vez mais desligado da realidade da maioria da população.
A pergunta, portanto, deve ser reformulada:
Se a maior economia do mundo não mudar de rumo, o que a impede de mergulhar em um colapso semelhante — com outra roupagem, mas com o mesmo efeito final?