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O OLHAR DE UM HOMEM SOBRE AS CONTRADIÇOES SOCIAIS NUMA CIDADE DO INTERIOR DE RONDÔNIA


Logo que tomei o café da manhã desta quarta-feira no hotel onde encontro-me hospedado, desci as escadas, atravessei a rua e comecei a caminhar em direção a empresa onde trabalho numa média cidade do interior de Rondônia.  Seguindo sempre pelo mesmo trajeto   fui observando as ruas ainda molhadas em função da chuva que caiu durante a madrugada.

Duas quadras adiante, pessoas dormiam na calçada, cenas que parece cada vez mais comum nestas paragens do poente. Assim como o capital não tem pátria e nem respeita fronteiras, a miséria também vai invadindo as pequenas e médias cidades do Brasil, independente do seu tamanho e de onde elas estejam localizadas.

Enquanto as pessoas dormiam, aproveitando os últimos minutos do amanhecer de mais um dia de movimento no comercio que começava abrir suas portas,  a presença de um homem de olhos claros, aparentando 30 e poucos anos, de cabelos e barbas longas, calçado com uma sandália de couro, uma jaqueta de pele de animais por cima de uma roupa suja e surrada me chamou a atenção. Ao mesmo tempo que parecia com um daqueles que dormiam ao relento, também me aparentava ter um rosto muito familiar.  Como era o único que estava acordado, cumprimentei- com um bom dia e fui seguindo adiante. Quando passei, ele me acompanhou e fomos conversando sobre aquela realidade. Perguntei se ele era da região e me respondeu com sotaque estrangeiro que estaria de passagem por aqui.  Estava ali cuidando deles disse. Segundo ele, algumas daquelas pessoas estavam cansadas, passaram o dia em busca de um prato de comida e dormindo com fome.

A rua por onde passamos é muito movimentada, conta com muitas lojas de variados ramos, agências bancárias, escritórios, consultórios e igrejas. Tem quatro igrejas naquela rua, apenas no trajeto que fizemos. No caminho fomos conversando sobre desigualdade social, de concentração de riquezas, da falta de emprego e  da fome que assombra a humanidade e aqui  num país considerado o maior celeiro do mundo.

Íamos passando direto quando ele deu uma parada em frente uma das quatro igrejas que tem neste trajeto.  Bem localizada, numa área nobre da cidade, um prédio lindo e bem estruturado. Paredes cobertas por azulejo e um grande espaço de estacionamento. Ele parou, olhou para o templo e disse, “acho que se chegasse aqui me trajando dessa forma eles não me deixariam entrar, poderia ate deixar, mas minha presença certamente incomodaria muito, os trajes aqui são bem diferentes dos meus”, seja por questões culturais ou de aspectos sociais.  

Andamos mais um pouco e mais uma igreja. Esta era bem maior, estacionamento para muitos carros e cercada de grades para não ocultar a beleza da moderna arquitetura. O moço lançou um olhar sobre as instalações e lembrou dos amigos que dormiam na rua. Ali deve ter espaços limpos, refrigerados, confortáveis e seguro. Pensei em bater nessa porta esta noite. Fiquei preocupado com a chuva e a falta de agasalho deles, mas seria inútil, não abririam a porta para recebe-los, ainda mais a pedido de um estranho, disse ele.  

 Logo mais à frente, algumas quadras depois, uma construção enorme salta aos olhos de quem passa, um projeto de arquitetura que lembra a Arca de Noé, só que de concreto armado. Admirado com o tamanho do projeto, Ele comentou, pena que cimento não mata a fome de ninguém. Construções como essas serve para aprofundar ainda mais as contradições sociais onde a fome e o luxo ocupam praticamente o mesmo espaço territorial.  É mais uma igreja que se ergue pomposamente em meio a forte crise politica e social que aflinge milhões. A s igrejas crescem e se multiplicam nos momentos de crise e de sofrimento do povo. A indiferença e o individualismo também. O sofrimento alheio não incomoda quanto se mistura a paisaagem das grandes cidades.

Me despedi do amigo e segui para o meu destino, na chegada, senti que a notícia da dispensa de mais alguns trabalhadores que acabara de perder o emprego   era recebida com naturalidade pelos colegas de Trabalho. Foi ali que comprovei  que a gente acaba se acostumando com a realidade a nossa volta. Aos poucos a desgraça alheia passa a não nos incomodar tanto.

EM TEMPO: Antes que alguém me acuse de generalizar e relativisar o papel das igrejas, devo dizer que sou religioso e acredido que tem muitas igrejas e religiosos comprometidos com a proposta do  Reino, Que fazem de suas igrejas um verdadeiro espaço de acolhimento e em momentos cruiciais da história, ja abriu espaço para abrigar os perseguidos do regime militar, que fazem coro ao grito dos excluidos e marginalizados.  Mas não custa lembrar que muitos aproveitaram a reforma agrária de Lutero para montar seu próprio negócio, digo, sua própria igreja.


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