A PRIVATIZAÇÃO DA ÁGUA NO MUNDO
A tomada de terreno do poder econômico na privatização dos serviços de água tem sido vertiginosa.
Em 1996 a participação privada no abastecimento público era apenas residual, concentrada em França e na Inglaterra, um pouco em Espanha. Em 2001 o Banco Mundial apontava para a gestão/concessão privada de 5% do abastecimento público do globo e está em crescimento acelerado.
Concentra-se praticamente em sete grupos económicos, encabeçados por duas transnacionais de origem francesa - Suez/Lyonaise des Eaux e ex-Vivendi (ex-Generale des Eaux, CGE). Esta última já instalada em Portugal, com várias concessões de abastecimento de água e outros serviços, como, por exemplo a Transtejo.
Essas transnacionais actuam muito mais em corporação ou oligopólio que em concorrência. Constituem-se em grupos de pressão fortíssimos junto dos órgãos de poder supranacionais, sobretudo os financeiros — Banco Mundial, FMI, GATS, ALCA, UE, MERCOSUL, etc.
O seu poder tem vindo a crescer extraordinariamente na última década e dominam, de facto, a política mundial da água. Fazem parte do Conselho Mundial da Água, que organiza o Forum Mundial da Água. Junto à UE, a Vivendi e a Suez fazem parte, por exemplo, do "Forum Europeu dos Serviços" (ESF), acreditado como ONG e consultado nos processos de decisão, incluindo muitos que não são submetidos ao Parlamento Europeu.
A privatização dos serviços de água significa uma enorme cedência de poder político, isto é, do poder de autodeterminação dos cidadãos, em favor do poder económico. Este processo tem tido a conivência da maior parte dos Governos dos países ricos e tem sido imposto aos países com dívida externa pelo Banco Mundial e FMI assim como pela UE.
A privatização efectiva é ainda minoritária e está a encontrar resistência na maior parte dos países da UE, assim como nos EUA e no Canadá. Mas a pressão continua sobretudo através dos acordos internacionais de comércio e a Directiva Quadro da Água da UE está a ser um instrumento de penetração da mercantilização da água. Muitos Governos que não tiveram ainda força para implementar a privatização nos seus países, devido à oposição dos cidadãos, têm sido coniventes e agentes activos desta legislação.