Quando cheguei aqui em 1984 ela já
havia deixado a cidade. A jovem italiana de nome Augusta que escolheu se
dedicar a vida religiosa, acreditava e continua acreditando na religião
libertadora. Liberdade de ideias e de expressão era algo proibido na década de 70
quando ela aqui chegou. O país vivia em plena ditadura militar.
Como professora, irmã Augusta foi
expulsa da escola Raimundo Euclides Barbosa durante aquele estado de exceção. Da
escola sem partido, do município sem partido, do estado sem partido de um país
sem partido. O presidente da república era eleito pelos deputados, que indicava
o governador, que indicava o prefeito que dominava o povo. Os contrários ao regime eram
perseguidos, torturados, assassinados ou expulsos de suas cidades ou do país.
Irmã Augusta foi convidada a
participar da 30ª Romaria da Bíblica, cuja história conheceu de perto e
aproveitou para celebrar seus 50 anos de vida religiosa, recordando aqueles
acontecimentos e os conselhos que sua mãe lhe deu por ocasião da escolha que fez.
Ela lembrou que sua mãe a levou na periferia da cidade, apontou o dedo em
direção aquelas pessoas simples, humildes e necessitadas e disse, dedica sua
vida a eles, se a igreja que você servir não tiver este rosto, não será a
igreja de Jesus Cristo.
Cercada por amigos e pessoas da
comunidade, crianças que hoje são adultos e que foram seus alunos na escola e de
catequese e acompanhada das irmãs Neusa, Dolores e Clara que também estiveram na Romaria da Bíblia, Irmã Augusta celebrou e comemorou seus 50 anos de vida religiosa com
a mesma convicção, com a mesma consciência e com o mesmo compromisso que
assumiu a meio século, Irmã Augusta nos deixa uma lição de vida, de fé e de
esperança num momento em que vemos ameaçado o Estado de Direito, a democracia e
um golpe parlamentar que tenta impor retrocesso na educação, no combate à
pobreza, o preconceito, o racismo e a ressuscitar a intolerância contra as organizações
populares e sociais. Irmã Augusta veio nos animar, nos ensinar a persistir e
acreditar numa religião libertadora, que tenha a cara dos mais pobres, fracos e
oprimidos.